Transposição começa a virar realidade; canal está próximo a Monteiro, e em Taperoá rio será saneado
O sonho de mais de um milhão de paraibanos de ver a transposição das águas do Rio São Francisco chegar ao Estado para aliviar o sofrimento provocado pelos períodos de seca já começa a ganhar forma. As obras da transposição feitas nos eixos Norte e Leste avançam e enchem de esperança agricultores de várias regiões do Estado. Com isso, alguns municípios cortados por rios por onde as águas passarão com destino aos grandes reservatórios, a exemplo dos rios Taperoá e Paraíba, já estão recebendo recursos provenientes de projetos aprovados pelo Governo Federal para realizar as obras de saneamento básico e revitalização dos rios.
Em Taperoá, no Cariri do Estado, foram iniciadas as obras para a revitalização do rio Taperoá, que se encontra poluído devido à grande quantidade de lixo que é depositado em seu leito por 31 municípios. Na cidade, está sendo construído um aterro sanitário para abrigar todo lixo que é produzido.
Além dos recursos destinados à construção do aterro, o município ainda foi contemplado com recursos de mais de R$ 13 milhões para as obras de esgotamento sanitário.
Para Monteiro, uma das portas de entrada das águas do Rio São Francisco na Paraíba, o Governo Federal irá liberar mais de R$ 4 milhões para saneamento básico de quatro bairros que ainda não contam com o serviço.
No Sertão, a cidade de Cajazeiras também receberá recursos financeiros do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), para obras de saneamento. De acordo com o secretário de Infraestrutura, Alan Abreu, em breve será realizado um levantamento dos bairros da cidade que não possuem saneamento básico e que poderão ser contemplados. O secretário informou que não tinha todos os dados referentes a exemplo do volume de recursos pelo fato de ter assumido o cargo há pouco tempo.
A transposição do Rio São Francisco é uma obra de grandes dimensões e que desde o período republicano vem gerando polêmica. Agora, próximo de sua concretização, as cidades que serão contempladas com o projeto, especialmente na Paraíba, precisam passar por mudanças estruturais para poder receber a tão sonhada água do “Velho Chico”. Algumas cidades possuem saneamento básico desordenado e, em muitas delas, ainda existem ruas que não contam com o serviço e todo o esgoto circula à céu aberto, escorrendo para o leito de rios por onde as águas do São Francisco passarão.
Lixo hospitalar e agrotóxicos poluem rios
Outro problema está na distribuição de resíduos sólidos, inclusive o lixo hospitalar, além de agrotóxicos que também são depositados nestes rios, causando poluição e assoreamento. É o caso do rio Taperoá que possui 152 quilômetros de extensão, corta oito municípios e abastece mais 32 cidades. Ele é afluente do rio Paraíba e, há décadas, tem sido usado como local de despejo de lixo e esgotos das cidades pelas quais passa. Para amenizar o caos em que se encontra uma das principais fontes de sobrevivência de mais de 200 mil paraibanos, o Governo Federal aprovou, em 2008, o projeto de recuperação e manejo da bacia hidrográfica do Rio orçado em R$ 135 milhões e que tem por objetivo restaurar as matas ciliares, recuperar o leito degradado e contribuir para o desenvolvimento sustentável por meio da agricultura familiar.
De acordo com o prefeito de Taperoá, Deoclécio Moura, o rio recebe toneladas de lixo por semana, provocando sérios danos ambientais. Ele disse que, até 2005, somente Taperoá produzia 70 carradas de lixo por semana, material que era todo depositado dentro do leito do rio e, com as chuvas, era levado para o açude de Boqueirão. “Por causa disso, a Prefeitura foi multada pela Funasa em R$ 72 mil reais. Hoje, reduzimos esta produção para 25 carradas por semana e todo material coletado é depositado em um lixão na saída da cidade”, disse o prefeito.
Em 2008, Taperoá foi contemplada com uma parte dos recursos para dar andamento à construção do aterro sanitário, já que a cidade foi um dos 12 municípios paraibanos contemplados com a obra. Localizado no sitio Panati, a três quilômetros da zona urbana, o aterro sanitário possui uma área de aproximadamente de 30 mil metros quadrados.
A obra foi dividida em três etapas e a primeira foi concluída. A segunda etapa deverá ser iniciada no mês de outubro e toda obra está prevista para ser terminada no primeiro semestre de 2011.
De acordo com o secretário de Infraestrutura de Taperoá, João Bosco Vilar, na primeira etapa foi executada a drenagem do terreno que, em seguida, foi divido em três espaços, denominados de células onde será depositado o lixo.
O secretario disse que, após serem liberados os recursos financeiros do Governo Federal, serão construídos galpões para o armazenamento do lixo e um setor administrativo. “Acredito que com os recursos do Governo Federal, a obra será finalizada com sucesso ainda no ano que vem. Assim que o dinheiro sair, o que ficou faltando será feito logo para que possamos nos livrar adequadamente do lixo, que só tem provocado poluição”, explicou.
Segundo o gerente de obras José Clecêncio da Silva, cada célula terá capacidade para armazenar uma quantidade ilimitada de lixo por um período de cinco anos. “A primeira já esta pronta para funcionar e as outras só poderão ser realizadas depois que essa não tiver mais capacidade de armazenamento”, disse o gerente.
Na etapa, ainda foi iniciada a abertura da lagoa de estabilização para onde escoará o resíduo liquido do lixo. Para a construção do esgotamento sanitário da cidade, que ainda hoje escorre para dentro do leito do rio Taperoá, o PAC II liberará em 30 dias, recursos de aproximadamente R$ 4 milhões e a obra deverão começar em até 60 dias. “Já foi aprovado a liberação do recurso e na próxima quarta-feira vou à Brasília agilizar o andamento desses recursos”, revelou o prefeito.
Aterro sanitário
Segundo o prefeito Deoclécio Moura, com a construção do aterro sanitário, Taperoá vai receber resíduos de várias cidades vizinhas. Ele disse que será construída também uma usina de reciclagem e, posteriormente, fábricas de beneficiamento de papel, plástico, garrafas pet e vidro para gerar emprego e renda para população.
Além destas obras, Taperoá deverá ganhar também uma cooperativa de catadores de lixo, já que atualmente, cerca de 45 famílias vivem de catar o material. “Vamos regularizar a situação dos catadores de lixo já que tem muita gente que sobrevive de catar esses materiais e consequentemente contribuem para limpeza da cidade e do rio. Além disso, vamos buscar investimentos para aquisição dessas empresas de beneficiamento. “Acredito que teremos bastante êxito já que estaremos contribuindo para revitalização do rio Taperoá e ainda gerando emprego e renda para o município”, afirmou o prefeito.
Monteiro terá obras de saneamento
O município de Monteiro, localizado no Cariri paraibano, ostenta o privilegio de ser detentor da área em que nasce o rio Paraíba, que terá o canal por onde passará as águas do Rio São Francisco. A cidade será a primeira do Estado a receber as obras de transposição das águas do Rio São Francisco pelo Eixo Leste. As obras estão a menos de 15 metros do município e, em alguns trechos, ainda em terras pernambucanas, próximas de Monteiro, o canal já está concluído. Em outros, foram feitas as valas para, em seguida, serem colocadas as bases de concreto.
De Custódia (PE) a Monteiro são quase 100 quilômetros de extensão de obras com mais de 500 trabalhadores. Para receber a transposição, algumas mudanças de infraestrutura serão realizadas em Monteiro. De acordo com informações repassadas pelo secretário de Infraestrutura Rogério Leite, a Prefeitura está elaborando projetos para serem apresentados ao Ministério da Integração Social.
Ele disse que, no primeiro semestre deste ano, foi aprovado um projeto para saneamento de quatro bairros da periferia, com recursos do PAC II, na ordem de mais de R$ 4 milhões.
Cerca de duas mil famílias que hoje convivem com o esgoto a céu aberto serão beneficiadas. Para a doméstica Silvania Maria Silva, 29, que mora no conjunto Mutirão, um dos locais mais prejudicados pela falta de saneamento, saber que o local será contemplado pelo projeto e que depois poderá contar com a água do São Francisco, foi uma das maiores emoções de sua vida. “Eu sempre ouvia falar dessa transposição, mas achava tão difícil sair! Mas, pelo que vejo das obras em Sertânia e que já vêm chegando perto de Monteiro, agora vai sair mesmo. Melhor ainda é saber que, só por causa disso, minha rua vai ser saneada, pois eu sofro com o esgoto na minha porta há mais de 20 anos”, disse.
Para o casal de aposentados Vicente Cândido Oliveira, 66, e Maria Alice Bezerra, 65, que também moram no conjunto Mutirão, a esperança de ver a chegada das águas da transposição do São Francisco ainda é muito grande. Os idosos já estavam pensando em se mudar para outro bairro da cidade por causa da falta de saneamento.
Eles disseram que o esgoto que circula em plena rua já provocou várias doenças e, por isso, evitam passar por perto do local. Animados com a notícia de que a rua foi contemplada e será saneada através dos recursos do Governo Federal, o casal comemora a possibilidade de não ter que deixar o lar onde vive há mais de 20 anos. “Não aguentávamos mais esta fedentina. Animais na rua, insetos e os moradores expostos às doenças. Mas graças a Deus acredito que isso agora vai mudar e vamos poder ficar em nosso lugar, e ainda feliz por sabermos que Monteiro vai ficar melhor depois da transposição”, comentaram.
Urbanização do Açude de Bodocongó
Em Campina Grande, a área do entorno do Açude de Bodocongó, um dos mais poluídos da Paraíba, será urbanizada e o açude deverá passar por um completo processo de revitalização. A informação foi repassada no início da semana passada pelo prefeito Veneziano Vital do Rêgo. Ele disse que o projeto ainda está em fase de elaboração, mas que deverá ser concluído nos próximos dias. O açude encontra-se bastante poluído devido à ação de pessoas que depositam lixo no manancial, além de motoristas que lavam veículos dentro do açude, comprometendo a qualidade da água.
O projeto será orçado em milhões, já que a obra demanda muito trabalho, mas o valor ainda não está definido. O prefeito destacou que a área em que se localiza o açude precisa de mais valorização por ser um bairro de referência onde estão situadas duas das mais importantes instituições de ensino superior, a Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) e a Universidade Federal de Campina Grande (UFCG).
Ele disse que a intenção é transformar o lugar numa área de lazer que possa atrair campinenses e turistas. “O projeto de urbanização do açude localizado em Bodocongó será apresentado em breve, gerando-se a revitalização do velho e histórico manancial campinense. É uma aspiração antiga da população campinense. Trata-se, portanto, de mais uma ação efetiva que a Prefeitura de Campina Grande tomar dando respostas a graves problemas da cidade, como sistema integrado de transportes coletivos, esportes, feira da prata e muitas outras ações importantes. Responderá mais uma vez a um clamor da cidade, que só prometeram e nada fizeram”, destacou.
Aterro sanitário em CG
De acordo com o secretário de Obras e Serviços Urbanos, Alex Azevedo, em relação ao destino do lixão que tanto tem preocupado a população, a Prefeitura vem elaborando projetos para conseguir junto ao governo federal, um aterro sanitário. Ele disse que mensalmente a cidade produz cerca de 400 toneladas de lixo que são depositados numa área próxima ao aeroporto.
Segundo o secretário, há sete anos a situação do lixão em Campina Grande era pior, mas nos últimos anos, ações realizadas no local têm conseguido controlar o amontoado de materiais. Ele disse que a área foi revitalizada até que seja construído um aterro sanitário.
Alex afirmou que está sendo elaborado um projeto para ser executado já em 2011, orçado em R$ 12 milhões e que tem como objetivo transferir todo o lixo da área para um aterro e fazer do local, uma área de lazer. O projeto buscará os recursos junto ao Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e do Governo Federal.
CP - Daniel Motta
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